sábado, dezembro 30, 2006
sexta-feira, dezembro 29, 2006
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Silogismo
Se uma Fêmea de Dragão de Komodo concebe sem cópola
Se a Virgem Maria concebeu sem cópola
Logo, ... ... ...
Sem ofensa.....
.............
Já não sinto nada para além da dor
Ou desta sensação angustiante.
À distância, sinto perder-se o teu calor
Nas mãos quentes deste amante.
J que desejo ardentemente,
O que fazes com o teu silêncio mudo?
Andas à deriva no afluente, ou
Nadas certeira para a Nascente?
Ainda resta esperança, ou acabou-se tudo?
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Odeio-te.
Tiraste-me tudo.
Começas por A. Terminas... comigo.
Não me lês, antes pudesses. Nem ouves.
Dir-te-ia berrando "Eu não sou assim!".
Viravas os olhos, se os tivesses.
E tocas-me no ombro e não te encontro.
Mexes-me nas coisas que procuro, no toque que não está lá. Eu deixei-o aí!
1 a 0 insanidade.
Ficcionas escolhas, e obrigas-me a decidir.
Apenas existo no espaço, enquanto me enganas com a percepção.
Dói-me como há muito.... não.
Não durmo.
E o silêncio, e o nunca mais, e o nunca mais, e o nunca mais, e o nunca mais...
Repetido.
Confirmado.
Reafirmado.
Não Quero mais....
Nunca mais...
Sozinho.
Sabre
Olhos vidrados.
Imóvel.
Trémulo...
Suave a lâmina, desfaz...
Corta, separa, divide, retira incisão a incisão, a unidade...
Jorra firme, mas verdadeiro o sangue pelo interior.
Desfalece a vida e a vontade de viver...
Nasce a vontade, um segundo, um acto abreviado. Um salto sobre "the oblivious", sobre um Décimo (10º) segundo que demoraria menos do que apenas um deles.
A loucura do fim, o desejo da facilidade e a lâmina outra vez que me relembra a cisão, o desmembramento, a violência, e ao mesmo tempo, o silêncio.
Sofre em silêncio.
Ninguém escuta o corte, o trinchar da cobaia.
Cede à experiência, lentamente, pesadelo a pesadelo, o elenco certo de enumerado de orgãos.
E tudo se apaga, uma a um, desconectados com a fonte, livres, sem sentido, como num manual de anatomia.
Tremem. Como tremem as mãos.
Metal afiado que desliza continuamente.
Não existe dor. Maior.
Não ao cubo sem resposta, sem amor.
Agora a duas mãos, numa pintura sem pincel delineada pelos traços finos de encarnado, pela agonia invisível e o pânico, o medo, o fim.
Cai o sabre.
Prossegue o corte, ramificado, desenfreado, sem razão ou meta definida.
E destrói a unidade, o ser....
Membro a membro, desmonta o H imperfeito.
Sem hipótese ou vida extra.
Solta o braço ao som da gravidade.
O olhar vidrado rebola pelo pavimento.
O sorriso rasgado pelo movimento.
Os dedos separados, torcidos.
Jaz, deitado, o resto dos restos, a sobra, o noves fora nada.
ZERO.
domingo, dezembro 17, 2006
(I)maturidades
Descobri uma revista do Externato da Luz, escola que frequentei, onde cometeram a ousadia de publicar o que escrevi com 14/15 anos, e que agora transcrevo:
"Só quero ser feliz"
Nada peço, nada anseio
Quero é ser feliz.
Mas apareceu o amor pelo meio
E meu desejo não satisfiz.
Amor para uns é tudo,
Mas a mim nada diz.
É como se fosse mudo
Aos meus apelos para ser feliz
Amor é segredo para guardar
No tempo do conhecimento,
Mas deve-se sempre libertar
No dia do casamento
Não sabia se devia transcrever este último verso...tendo em conta a real sequência de eventos.
Enfim, as coisas que uma criança escreve...
"O amor é fodidoº. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodidoº.
É melhor do que morrer. Há coisas, como o álcool e os livros, que continuam boas. A morte é mais aborrecida.
Porque é que fodemosº o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja parcialmente fodidoº. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodidoº pode ser a coisa mais bonita do mundo."
Página 16 de "O amor é fodidoº", de Miguel Esteves Cardoso.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
"Debaixo do cabelo preto, penteado para cima, viu um rosto luminoso, muito terno e muito inteligente, uma boca vermelha como um figo acabado de cortar, sobrancelhas pintadas a descrever um arco alto, olhos escuros, inteligentes e observadores, e um pescoço claro e esbelto, a emergir do vestido verde e dourado. As mãos da mulher eram firmes e macias, compridas e estreitas, ornamentadas com largas pulseiras de ouro nos pulsos. Ao ver como era bela, o coração de Siddhartha rejubilou."
in Siddartha, de Herman Hesse
Naquela noite, foi o teu perfume
que me atravessou por inteiro.
Como o obsessivo ciúme,
Que com estoque no peito
Perfura ligeiro.
Mas o odor fabricado,
Cujo nome não repito
Tal o medo de me contaminar
Com o amor já mito,
Teima em pegar-se a mim.
A ficar.
E quando o cego ama
Em silêncio neutro de terceiro,
Eis que a memória trama:
Encurrala o touro
Entre o cavaleiro e a chama.
(2)
E quando o cego ama
Em silêncio neutro de terceiro,
Eis que a memória me trama:
És quem diz que Ama,
E rejeitou primeiro?
Soa a corneta afinada:
Termina o sofrimento!
Na arena, a espera concertada
Pelo lamento do animal,
Que com a espada enfiada
Morre de amor,
no final.