sexta-feira, setembro 07, 2007

Contradição repugnante

Ontem, voltando para casa, percorri a Almirante Reis de uma ponta a outra.

Esta avenida, cuja fama não é das melhores, revelou-me por volta das 4 da manhã, uma das maiores ironias vivas que tive a infelicidade de testemunhar.

Característica pela sucessão quase parasita e desordenada de lojas de decoração, onde os sonhos e o conforto se escondem por detrás de vidros, esta Rua alberga diariamente dezenas de desalojados, para quem esta realidade não é estranha.

Deitados ao longo dos pilares das Arcadas dos vários prédios, espreitam pelos buracos da sua 2ª pele, trespassando mentalmente a barreira física e transparente das montras.

Do outro lado, o conforto e o luxo traduzem-se em duas palavras que não podem empregar: escolher e comprar.

Na cabeça, essas palavras não ganham pó, porque todos os dias, irremediavelmente, aqueles olhares descobrem uma nova mobília, um novo preço.

Deste lado, nesta sua enorme casa colectiva onde muitas vezes faltam paredes e não tectos, permanecem os olhares curiosos, mas tristes, de alguém que tem uma divisão, onde habita diariamente o sonho, mas cuja chave há muito se perdeu...ou nunca se encontrou.

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