sexta-feira, novembro 07, 2003

Calor Humano



Há uns dias, quando caminhava para casa, já tendo batido há muito as 12 badaladas, e quando tudo já se deveria ter transformado em coisas feias e desinteressantes, vejo um magnífico animal, com pêlo castanho claro, estendido ao longo de um tapete de entrada de prédio.
A beleza era tal, que instintivamente procurei, afinal em vão, uma trela, uma coleira, algo que lhe conferisse uma titularidade.
O dono, esse, perdera-se, provavelmente, na noite, numa noite, afastando-se do lindo cão que agora repousava à frente dos meus olhos.
Para quê procurar justificações onde elas não existem? Para quê inventar histórias que apenas confortam a mente, mas não o animal que agora dormia ao relento?
Sem dono, ao frio, aninha-se escondendo-se nos sonhos, sim porque o cães também sonham, onde certamente brinca com um dono inventado pelas suas carências caninas. Durante essas horas é feliz, ao menos isso.
Hoje fui eu que sonhei com ele, julgando que seria o meu cão, aquele que nunca tive, o meu Spike, vulgar de nome mas único no coração.
Que me interessa pensar que foi o SPike de alguém, ou que tem pulgas e doenças que desconheço e não vejo.
Mais uma noite como qualquer noite, e vejo-me hoje regressar a casa com o desejo de o ver novamente, na esperança contraditória de estar bem mas ainda não ter arranjado alguém que o mime, até um dia. Até ao dia em que ganhe coragem, e não tenha mais medo de acordar do sonho, que afinal pode ser tão real, tão possível e que está apenas ao alcance de um sorriso.
Lindo cão que dormes descansado, desculpa ser tão egoísta, mas espero ver-te amanhã aí, para que possa, pelo menos por mais um dia, imaginar que podes ser meu.

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