terça-feira, novembro 25, 2003

Despertares



Há dias, em que o cansaço nos obriga a reparar em pequenos pormenores.
Isto acontece, porque a pequenez das coisas deixa de o ser, quando nos impede de chegar ao tão desejado conforto da nossa casa.
Hoje foi um desses dias.
O camião do lixo, que de pequeno, afinal, não tinha nada, era empecilho. As luzes rotativas, frenéticas e gémeas na frustração de não terem sido Faróis dos nossos mares, iluminavam o que os outros rejeitam, o seu lixo.
Mas no impedimento gerado pela sua imobilidade de toneladas, felizmente temporária, vi um motivo de reflexão.
Profissional no método de reencaminhar o conteúdo dos cada vez mais vampíricos caixotes, tal é a raridade da sua presença nas nossas ruas durante o dia, o homem de verde e preto, exibia uma tez em tudo contrastando com o cenário, bem clara e limpa.
Provavelmente de Leste, ali estava, agarrado ao veículo que o transportava pela noite, para o mais escuro de todos os mundos: o mundo da rejeição humana.
Depois, só me lembro de pensar emocionado "Pois é, o Lixo é igual onde quer que se esteja".

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