sexta-feira, outubro 24, 2003

Eu (não) sou um ET



Ainda bem que os meus dedos conseguem desenvencilhar-se, escapando à paralisia que me toma os músculos que rodeiam a boca e a mantêm aberta. Bem aberta.
Embora o momento exija um bom palavrão, corrijo, um bom grito de raiva, a verdade é que a indignação obriga-me a transformar tudo o que sinto em palavras. Graças a BLOGGOD que existem pontos de exclamação!

Aqui vai:

Não obstante os constantes apelos do DR. Lopes, que como toda a gente sabe é o famoso ventríloquo que ressuscitou o Marquês de Pombal, para usarmos os transportes públicos, a verdade é que ainda teimo em escolher o ambiente recatado e privilegiado do meu veículo automóvel. TEIMOSIAS!
E assim, há dois dias atrás, regressando de mais um dia de estágio, farto de violações de Direitos, vi-me actor protagonista dum caso que até à data só conhecia dos processos que acompanho no escritório.

Na falta de lugar para estacionar na praceta que alberga o meu prédio, decidi levar o carro até ao conforto do lugar que lhe está reservado na garagem. Conforto longínquo já que o acesso se faz por outro prédio, uns metros mais acima.
Já a esfregar os olhos de sono, desço pela rampa e deixo o automóvel deslizar quase ao sabor do ralenti, até ao lugar vazio...
Eu disse vazio, porque foi assim que pensei encontrá-lo.
A realidade já nem preciso de a escrever.
Claro que deixei um papelito improvisado no pára-brisas do veículo do transgressor, desta vez, do meu direito de propriedade, indicando o n.º do andar que reclamava uma legitimidade agora inútil.
Passaram quase dois dias, sem que o dito 4 rodas se movesse ou até mesmo que o dito escrito desaparecesse... Nada.... tudo na mesma.

Polícia com ele. Se fosse roubado agora se saberia.
Irado, revoltado, incrédulo.

"...Pertence ao Sr. X, e é seu vizinho..." - Sorriso e risada da agente que me escutava do outro lado do telefone.

Lá vou eu tocar à porta do tal X, e reponde a voz da progenitora, depois da minha conversa lhe vir reavivar a memória: "...E deixou lá algum papel no carro?..." - Alguém me consegue explicar o que é que isto quer dizer?????

Enfim, lá veio o dito Sr. retirar o carro, meio estremunhado, sempre eram 23.20.
Chega ao veículo, cumprimenta-se com um aperto de mão e sai-se com:

- Você é que é o dono do lugar?
- Sou, e já há dois dias que estou a tentar pôr aqui o carro.
- Desculpe, é que costuma estar vazio.
- Estar vazio não significa que não pertença a alguém.
- Pronto, eu vou passar a pôr o carro lá fora
- Esta frase foi dita com tanto desalento e insatisfação, que não poderia ser brindada com o meu silêncio:

- Não me diga isso a mim, eu não tenho nada a ver com isso. Aliás já nem é a primeira vez que isto acontece. Parecendo que não o Sr. causou-me incómodo.

O Silêncio, afinal, pertenceu-lhe, apesar de estranhamente contrariado.

Não devo ter sido suficientemente convincente.....

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