segunda-feira, julho 22, 2013

Dentadas da realidade.

Acordara com os raios de sol silenciosos a percorrer os edifícios lá fora, limpando-os lentamente dos vestígios da noite. O mundo era do astro, novamente, por pouco mais de 12 horas.
Hoje tinha sido muito duro.
A noite trouxera-lhe sonhos vívidos, uma cama de hospital, uma enfermeira aliada a dizer-lhe que havia chorado com o nada: "O nada, aquele nada que o Frederico detesta ouvir convertido em impossibilidade inultrapassável. Chorei porque os exames não estavam tão bem como esperávamos, mas já passou". 
Perguntei-lhe claro está, de forma ingénua, até para mim, se então já sabia o resultado. Nem precisou de responder.
Não houve sim, nem não.
Uma máquina precipitou-se sobre mim, não sem antes me olhar ao espelho. Estava de olhos azuis (tratamento ou lentes?), com uma touca branca (o sonho a metaforizar a falta de cabelo) vestido de branco. Uma voz sonolenta de quem se vai arrastando para o seu destino drenado de forças.
Perguntei-lhe então que podia ter eu feito antes para evitar aquela cama, aquele veredicto, aquela violência do tempo conscientemente contado. Lembro-me de lhe ter perguntado se comer menos gorduras ajudava. "Ajuda sempre"- respondeu-me enquanto delicadamente me dirigia um vestígio de falsa esperança. 
"Já pensaste em congelar-te?"
Lembro-me ter ouvido isto sentindo que, de repente, parecia existir uma bolsa de ar. Esperança sob a forma de uma proposta tão descabida e etérea.
Disse-lhe apenas: "tirem-me daqui que não aguento mais estar aqui fechado". Arranjem-me um máquina para eu levar, que eu não aguento mais isto."

Nessa altura do sonho um tubo orientado entrou-me pela boca a dentro inspeccionando os meus dentes, um a um, enquanto a enfermeira, cujo nome não me recordo, se fechava na sala dos comandos.

Acordei com uma calma incompreensível, sentei-me na borda da cama e deixei-me ficar a olhar para os prédios lá fora.
...e agora...?

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