domingo, julho 20, 2003

Agora a sério!



Acabo de assistir a mais uma pérola do jornalismo em Portugal: a entrevista, em directo, à ainda mulher de Jorge Nuno Pinto da Costa.
O objectivo?
Provavelmente, para que o público conheça a verdade sobre os últimos acontecimentos em casa dessa Senhora, revelando a todo o país, se efectivamente houve ou não agressão.
Confesso que não sou apologista da frase "entre marido e mulher, não se mete a colher", aliás porque a nossa lei já deu um passo em frente ao considerar crime público o crime de maus-tratos do cônjuge, mas há certas coisas que simplesmente não consigo entender.
Porquê e para quê, dar tempo de antena, ainda por cima em "prime time", a este tipo de... bigbrother em diferido ?
Bem sei que o jornalismo da Tvi é apelidado, por muitos, de sensacionalista. Mais, o "menu" do jornal da tvi costuma estar recheado de nomes incógnitos elevados a "peça" nacionalmente relevante, isto é, num espaço do dia em que o espectador deveria ser informado das notícias mais relevantes, este é, contudo, bombardeado com histórias tipo a do sr. António, que numa noite de maior bebedeira caiu ao poço, tendo sido encontrado a boiar, no dia seguinte, pela neta.

Srs. Jornalistas da Tvi, permitam-me dirigir-lhes algumas palavras:

Considero vergonhosa a vossa selecção de peças, chegando a revelar uma falta de nível monstruosa quando, à semelhança do que sucedeu hoje, não só invadem a intimidade da vida pessoal das pessoas, isto independentemente da autorização dos intervenientes, mas também quando exploram circunstâncias da vida entre vips, com o exclusivo intuito de atingir maiores audiências.
Agora pergunto, será que se fosse o Sr. Manel a bater na mulher, esta também mereceria o mesmo tempo de antena? Se a resposta for não, fica evidente a vossa política de audiências. Caso seja sim, então desculpem-me, mas são terríveis a seleccionar matéria digna de ser exibida.
A solução será, por e simplesmente, não dar voz a este tipo de paródias.
Já sabemos que as pessoas têm defeitos, algumas são mesmo maldosas, poucas conseguem matar, mas o que é que conseguem ao expô-las da maneira como o fazem?
Poderão considerar a minha opinião um tanto radical, afinal de contas a vítima de maus tratos deve ser auxiliada e protegida. Nesse ponto, estamos todos de acordo, mas não é na Televisão que devemos analisar e descrever todos os pormenores, sórdidos ou não, duma vida a dois. Mas que descrédito é esse da Justiça e que necessidade é essa de vindicta Privada?

Não acham demasiado chocante e contraditório apresentar, no mesmo espaço, rubricas tão escandalosamente fúteis e a opinião de pessoas tão sérias e competentes como Miguel Sousa Tavares e Marcello Rebelo de Sousa?


Nota: não sou adepto do Futebol clube do Porto, não sou defensor do Pinto da Costa, julgo, sim, que há lugares indicados para proteger a integridade física das vítimas e para punir quem a viola.

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